Capão Bonito, 13 de outubro de 2024

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Abílio Turco e a estrada ao litoral

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Abílio Turco e a estrada ao litoral

Com a manchete “Estrada, desafio aceito por Capão Bonito”, o jornal O Estado de S.Paulo destacou em 1978 a ideia do então prefeito Abib Elias Daniel de rasgar o sertão e encurtar o caminho ao litoral

Abib Elias Daniel é considerado até hoje um dos políticos mais populares da história de Capão Bonito. Foi prefeito da cidade em duas ocasiões, de 1969 a 1972, e de 1977 a 1882. Na metade do seu segundo mandato a frente do Poder Executivo decidiu, por conta própria, realizar um antigo sonho: encurtar o caminho para o litoral.

A ousadia de Abílio Turco, assim venerado na cidade, virou destaque da edição do dia 21 de setembro de 1978 do jornal O Estado de S.Paulo. Entrevistado, o então prefeito de Capão Bonito classificou o projeto como uma “minitransamazônica”, usando como referência a rodovia transamazônica, inaugurada em 1972 pelo então presidente militar Emílio Garrastazu Médici. “Para nós, diante dos recursos que temos e da grandeza da obra, será uma minitransamazônica”, disse o prefeito na ocasião.

A ideia de construir uma estrada ao litoral rasgando matas virgens, consideradas atualmente como áreas de proteção permanente, não recebeu apoio dos governos Estadual e Federal, ou seja, a prefeitura teria que arcar sozinha com o projeto. O Estadão relatou as dificuldades que o prefeito enfrentaria para transformar o sonho em realidade. “A região é acidentada, agressiva e conta com despenhadeiros que nem rato passa, segundo relatório de Zé Alexandre, um mateiro que há 30 dias está enfiado no sertão, abrindo picadas e observado a vereda mais viável para o traçado da rodovia”.

Teimoso, o então prefeito firmou que varia a obra “a qualquer custo”. “Custe o que custar,vou fazer essa estrada”. Abílio Turco disponibiizou três máquinas motoniveladoras e um trator esteira para a primeira etapa da obra e abertura dos atalhos nos bairros Boituva e Lagoa, hoje pertencentes ao município de Ribeirão Grande.

Na reportagem de alcance nacional, a nova estrada ligando Capão Bonito ao litoral custaria cerca de 500 mil cruzeiros aos cofres municipais e teria, no máximo, 38 quilômetros. “De Ribeirão Grande a Lagoa, seis quilômetros; da Lagoa até o Boituva, mais 6 km; do Boituva ao Sakamoto, 10; do Sakamoto ao Campo do Rosa, 5; e do Campo do Rosa até a estrada Eldorada-Sete Barras, 13 quilômetros”, publicou o jornal.

Conforme o Estadão, para justificar a importância da construção da estrada, o então prefeito Abib Elias Daniel citou a passagem histórica de Carlos Lamarca pelas matas da região. “Foi aí nesse vazio que o Capitão Lamarca desafiou o Exército Brasileiro e ameaçou implantar um sistema de guerrilha no país. Posteriormente, militares que visitaram a região reconheceram a importância de desenvolver a área, como medida estratégica”, relatou na época.

Além dos desafios, Abílio Turco também sofreu com as críticas e em alguns momentos, com o preconceito. “Pode até ser uma loucura, mas prefiro entender como idealismo e foi em frente, custe o que custar”, ressaltou.

Apesar dos improvisos, a abertura de estradas no meio do sertão foi fundamentada e por pouco não virou realidade. As leis ambientais da época não apresentada a rigidez de hoje e isso favorecia o projeto. O ex-prefeito chegou a concluir 17 quilômetros, mas parou às margens do rio Paranapanema. “Depois do rio Paranapanema começa o trabalho mais difícil, de matas cercadas e pirambeiras”, conforme explicou Antônio Meira da Silva ao jornalista Sérgio Coelho, correspondente do Estadão na região de Sorocaba.

Para montar o traçado da estrada no meio do sertão, a prefeitura contratou um experiente “mateiro” para desbravar as matas usando apenas um facão. “José Alexandre Meira Filho, um homem de 54 anos, o mateiro mais experiente de Capão Bonito, é homem contratado pela prefeitura para determinar no meio do sertão e entre as serras, o caminho mais adequado para a passagem da estrada”, noticiou o jornal.

Além dos benefícios logísticos que a nova estrada poderia trazer à região, Abílio Turco também defendia o cultivo de cacau entre as matas virgens. “Outro plano do prefeito é a implantação de uma cultura de cacau, um produto muito bem cotado no mercado interno e externo e que, segundo estudos já realizados pela Secretaria de Agricultura, tem grandes possibilidades na região”.

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