Capão Bonito, 22 de outubro de 2024

Personagens

QUINERO

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QUINERO

Como em futebol cada um tem sua história, e uma velha foto sempre encerra muitas delas, recorro a uma bela crônica do Rubem Braga, tão concernente e universal, bastando apenas trocar os nomes da foto:

“A Equipe

Uma velha, amarelada fotografia de nosso time. No primeiro plano vê-se a linha intrépida, ajoelhada sobre o joelho esquerdo, prestes a erguer-se, uma vez batida a chapa, e atacar com fúria. A defesa está atrás, de pé pelo Brasil (… ).  Novembro, 1952”

Na foto do Ipiranga Atlético Clube, o nosso imortal time tinha a seguinte escalação: Navarra, Pedrão, QUINERO, Juca, Julinho Minhoca, Cornélio e Limeira; e aquela linha de ataque arrasadora: Polidoro, Hugo Milani, Galego, Édio e Lazinho Reboque.

E tal qual na velha fotografia da crônica de Rubem Braga, daquele ataque, o único que continua entre nós é o ponteiro direito, e, daquela inexpugnável defesa, acabamos de saber da baixa do melhor e mais elegante meio campista que já militou em nosso futebol.

Desde o campinho do Aníbal, na chácara do Antônio Mariano, o único campo gramado da cidade, cercado de arame farpado, aquele jovem de porte atlético bem acima da idade já reluzia como futuro craque. Naquele campinho de futebol, ascendeu toda a base do time do Ipiranga A.C. de nossa cidade, e de inúmeros profissionais para outras, inclusive para o São Bento de Sorocaba.

O jovem QUINERO, apesar do apelido herdado do pai ter o sinônimo de amargo, era uma das pessoas mais doces, gentis e humildes que já conheci. Ele só não seguiu carreira fora de Capão Bonito porque não quis, futebol moderno e porte atlético ele tinha de sobra. Eu mesmo testemunhei num domingo, naqueles bancos em frente do coreto da Praça, um empresário do ramo de Máquinas de Costura da cidade de Piracicaba-SP insistir para que QUINERO fosse com ele para jogar no XV de Piracicaba, da 1º Divisão de Profissionais.

Talvez, naquela ocasião, jovem, galã, rodeado de fãs e líder no campo de futebol, tenha sido difícil deixar esse conforto pelo incerto. Nós é que ganhamos muito com essa decisão.

Li, recentemente, o livro da médica Ana Claudia Quintana Arantes, “A morte é um dia que vale a pena viver”. Marcou-me em especial, da belíssima obra, a seguinte reflexão da autora sobre o luto: “A primeira coisa a dizer é que a pessoa que morre não leva consigo a história de vida que compartilhou com aqueles que conviveram com ela e para quem se tornou importante ao longo de sua vida.”   

Esse é o fato que nos alenta nesta vida, principalmente aos que foram destinados a receber no mês de outubro, coincidentemente, notícias de perdas irreparáveis, das quais devem ficar todas as lembranças, principalmente as alegres.

É essa alegria que quero guardar do QUINERO, como naquela noite em que meu amigo professor, e o outro, um jornalista, resolvemos entregar-lhe uma camisa do São Paulo Futebol Clube, seu time do coração desde os tempos da Sapataria dos Bloes, e, após passado o susto das batidas em sua casa tão tarde da noite, acabamos por encher aquele simples coração de orgulho e felicidade.

Soube que ele guardou aquela camisa com muito respeito e carinho, sentimentos que sempre teremos quando dele lembrarmos. Siga com Deus, amigo!

Antonio Isidoro de Oliveira – Poli(doro), Ponteiro Direito

poli.oliveira@terra.com.br

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