Quando um homem ou mulher pensa além de si, costuma-se dizer que é uma pessoa de vanguarda, a frente do seu tempo. O jornalista, historiador, político e empresário José Carlos Tallarico, foi, sem dúvida, uma dessas pessoas. É impossível falar da mídia impressa e radiofônica na região, sem citá-lo. Bem como, não dá para falar de política, da história desta linda terra que completa 161 anos, sem lembrar de sua carismática sabedoria. Também não há como deixar de reconhecer nele um instrumento primordial na implantação da informação e do conhecimento no município que tanto amou.
Desde cedo aprendeu com o pai, Paschoal, um imigrante italiano de personalidade marcante, que um bom homem se faz de princípios, mas fundamentalmente de coragem, iniciativa e muito trabalho. Foi um verdadeiro empreendedor da comunicação, quando ainda nem se pensavam na palavra “empreendedorismo”.
Assim foi durante toda a sua existência. Frequentou as escolas de Capão Bonito e ciente de que só o conhecimento poderia lhe assegurar uma vida melhor no futuro, foi a luta.
Num tempo em que a viagem à Itapetininga demorava horas, foi lá que cursou o quarto ano primário (quarta série de hoje), no antigo Colégio Imaculada Conceição. Cursou Técnico em Contabilidade na Escola de Comércio, concluído em 1946. Um ano depois, o espírito de pioneirismo começou a despontar naquele jovem de visão, com a abertura do primeiro Escritório de Contabilidade “Líder”, em Capão Bonito. Em 1947 foi eleito presidente do Capão Bonito Clube e Sociedade Recreativa.
A solidariedade também era uma das características natas do jovem Zé Tallarico. Sendo ele filho de imigrante e conhecedor das dificuldades que todos eles enfrentaram, uniu-se a colônia japonesa do município, na fundação do Capão Bonito Beisebol Clube. Na época, por força da lei, estrangeiros não podiam ocupar posição de liderança em associações de classes ou de representações sociais e Tallarico tornou-se o primeiro presidente daquela instituição, que mais tarde se tornaria o Clube Kai-Kan, permanecendo até 1949 na função.
Foi mentor, criador, secretário e diretor do Ginásio Estadual de Capão Bonito (hoje Dr. Raul Venturelli), cuja conquista demandou um intenso trabalho de bastidores para convencer as autoridades da época. Um historiador nato, José Tallarico sempre recordava de uma das passagens que permitiu a implantação do Ginásio em Capão Bonito. Estava agendada uma vistoria por parte das autoridades estaduais, para ver se a escola teria condições de se elevada a condição de Ginásio.
No acordo feito com o Governo do Estado, o prefeito da época (Araldo Lírio de Almeida), se comprometeu a ceder o prédio mobiliado para o funcionamento do Ginásio. No entanto, o dia da vistoria estava chegando e a Prefeitura não tinha cumprido com sua parte. Aí, Tallarico e o amigo Raul de Góes, foram a São Paulo, na Secretaria de Educação na tentativa de conseguir alguns móveis, mesmo que usados, para assegurar a implantação do Ginásio que seria de fundamental importância para os jovens poderem estudar.
Enquanto aguardavam para serem atendidos, ouviram a conversa do diretor, que contestava pelo telefone, a sua mulher que preparava a festa de aniversário da filha. Uma das exigências era de que a festa tivesse leitoa, frango e alguns quitutes caipiras. Bastante contrariado o diretor atendeu os capão-bonitenses e em tom de desabafo comentou onde poderia encontrar aquelas coisas pedidas por sua mulher em São Paulo. Recebeu o pedido dos móveis, se comprometendo a pensar com carinho sobre o assunto.
Quando retornavam à Capão Bonito Tallarico e os amigos tiveram uma grande ideia: fazer a festa da filha do alto funcionário do governo. Buscaram apoio dos moradores da cidade e dos moradores da zona rural, onde conseguiram os animais e os produtos. Só faltava o caminhão para transportar e foram então falar com o prefeito, Araldo Lírio, que era seu tio. Tão logo ouviu o pedido, este lentamente levantou a cabeça e respondeu para Tallarico: “Não foi você que arrumou os móveis, os materiais, então arrume o transporte também”.
Contrariado e irritado Tallarico saiu batendo a porta, quando encontrou com Alfredo Teixeira, que lhe perguntou qual o motivo de estar nervoso. Tallarico então contou o que estava acontecendo e Teixeira lhe respondeu: deixa comigo, eu vou buscar esses materiais. Dias depois, logo nas primeiras horas da manhã o caminhão estaciona em frente a Secretaria de Educação, em São Paulo. Tallarico pede ao porteiro que comunique ao diretor que sua encomenda chegou.
Pelo interfone este responde que não esperava encomenda alguma. Tallarico retrucou que era o presente de aniversário de sua filha. Aí o diretor apareceu e deu de cara com caminhão lotado de frangos, leitoas, galinhas, laranjas, mexericas, feijão, etc. Tallarico então lhe contou que haviam ouvido a conversa com sua mulher, e decidiram lhe trazer o presente. Emocionado, o diretor mandou que levassem tudo para sua casa e na volta, o caminhão poderia passar no depósito da Secretaria para carregar o que precisassem para o funcionamento do Colégio. Assim fizeram e dias depois Capão Bonito finalmente teve o seu tão sonhado Ginásio aprovado pelo Governo do Estado.
José Tallarico implantou a Tipografia Regência em 1951 e o jornal Bandeirante, e neste mesmo ano assumiu a presidência do Ipiranga Atlético Clube, um dos lendários times de futebol de Capão Bonito. A extensa lista de serviços prestados ao município inclui atuação na vida pública como secretário municipal, secretário administrativo da Câmara de vereadores, fundação (com o então prefeito Dr. Raul Venturelli), da Escola Técnica de Capão Bonito, sendo seu primeiro secretário e posteriormente diretor; vereador por várias legislaturas (num tempo em que a função era honorária, ou seja, não havia remuneração) e presidente da Câmara.
Teve participação ativa em conquistas de melhorias e empreendimentos que ajudaram a elevar e muito a qualidade de vida dos capão-bonitenses. Através do seu jornal, desenvolveu campanha pela chegada da Companhia energética, de estabelecimentos bancários como a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Estado de S.Paulo (Banespa, hoje Santander), Nossa Caixa, Escola Oscar Kurtz Camargo; proprietário da Rádio Cacique, cujos microfones sempre fez questão de usar a bem da informação pública, fundou e dirigiu durante décadas o jornal A Tribuna Sudoeste, entre tantas outras ações e participações ativas em prol da comunidade, de sua terra. Por tudo que fez e lutou, José Carlos Tallarico marcou não apenas uma, mas inúmeras páginas na história de nossa querida cidade.
Morreu em 2003, vítima de complicações pulmonares.